A
Magia de Brasília
Brasília
nasceu sob o signo da magia.
O seu criador, JK, um homem
predestinado, um autêntico
mago, se cercou de outros
magos, Niemeyer, Lúcio
Costa, e toda uma equipe imbuída
deste espírito criativo,
inovador, para erguer, da
poeira do Planalto Central,
uma cidade, a capital de um
país, cujo projeto,
formas, proposta, despertaram
o imaginário dos brasileiros,
bem como de outros povos,
alcançados pelo seu
fascínio. A oposição
à construção
de Brasília foi ferrenha,
mas JK não desistiu.
Mostrou-se um líder
à altura da sua ousada
proposta, pagando um alto
preço por isto. Os
seus opositores nunca o perdoaram.
Quando me mudei para Brasília,
pela primeira vez, em 13/10/81,
me fascinei com os seus amplos
espaços, a funcionalidade
das suas linhas, a heterogeneidade
do seu povo, a vastidão
do seu verde, a solidez da
sua infraestrutura, a fluidez
do seu trânsito. Na
época, levava os meus
filhos ao planetário,
à piscina de ondas
do Parque da Cidade, ao Memorial
JK, ao antigo Centro de Convenções,
ao Clube da Vizinhança,
aos cinemas da Cultura Inglesa
e do Centro Hispânico,
à Água Mineral,
à Praça dos
Três Poderes, aos eventos
que se realizavam na Esplanada
dos Ministérios.
Íamos muito à
Praça das Fontes, no
Parque da Cidade, e nos deliciávamos
com a queda e os espelhos
d’água, a variedade
das suas flores (até
Vitórias Régias
havia), o gramado japonês
em diversos níveis,
os ‘jardins suspensos’, os
coqueiros, as linhas acolhedoras.
Mudei-me para Brasília,
de novo, em dezembro de 2007.
Surpreendi-me com o trânsito
pesado, perigoso, caminhando
celeremente para o caos total.
Também com as pistas,
já com buracos e desníveis.
Um belo dia, me dirigi à
Praça das Fontes: completamente
abandonada! E, pelas notícias
que ouço, todo o vasto
Parque está nesta deplorável
condição. A
piscina de ondas acabou, há
muito tempo. Ora, um parque
como este é uma jóia
rara, a ser preservada com
muito carinho. Teria que ser
prioritário para o
governo; não é
o que está acontecendo.
Brasília continua crescendo
espantosamente. E os problemas
se agravam. Pelo último
censo do IBGE, a região
centro-oeste do país,
onde se localiza Brasília,
ultrapassou a região
sudeste, e hoje tem a maior
renda per capita do país.
Temos em Brasília um
elevado nível cultural
e socioeconômico. E
estamos presenciando uma perigosa
deterioração
dos índices de qualidade
de vida da nossa capital.
Chega de ufanismos! Todos
sabemos que Brasília
é uma cidade diferenciada,
que se destaca no cenário
nacional. Não podemos
permitir que ocorra uma perda
na sua qualidade de vida.
Temos que reviver o espírito
dos pioneiros, redescobrir
a magia que impregnou aquela
época, que jaz adormecida,
vencida pelo imediatismo,
jogos de interesses, politicagem,
e outras mazelas atuais. Temos
que nos conscientizar, nos
unirmos como coletividade,
e tomarmos atitudes em defesa
dos nossos interesses. Cobrarmos
do poder público medidas
efetivas que sanem os graves
problemas que assolam a nossa
capital.
Administradores, cientistas,
pesquisadores, sociólogos,
antropólogos, historiadores,
economistas, engenheiros,
arquitetos, urbanistas, paisagistas,
professores, servidores públicos,
estudantes, militares, comerciantes,
comerciários, industriais,
industriários, prestadores
de serviços, que se
unam com este objetivo, ao
lado dos poetas, artistas,
pintores, escultores, fotógrafos,
escritores, espiritualistas;
estes últimos se incumbirão
de reviver o imaginário
daqueles primeiros tempos,
ao alcançar o nosso
inconsciente coletivo com
seu poder criativo, despertando
a magia de Brasília,
que adormeceu, tal e qual
Merlin, na lenda do Rei Arthur.
Abilio
Terra Junior
12/10/2008