Encontrar-se
em todas as estradas do mundo,
sem itinerários, sem
rumos. Seguir pelas espirais
inebriantes, que me conduzem
para dentro e para fora de
mim mesmo.
Ir ao fundo do poço
medieval e captar todos os
seus odores, as dores, as
torturas, os golpes, os risos,
os gozos, as fogueiras que
queimam. Correr pagão
e nu com as mulheres e mergulhar
no lago frio.
Perguntar se vale a pena quando
ninguém se pergunta.
Perpetuar o ritual. Individualizar-se,
mas aceitar o que dizem os
que vivem coletivamente.
Perder-se nos detalhes, que
pertencem ao Grande Oceano.
Respeitar cada sistema de
vida. Saber-se último,
sem desespero ou mágoa.
Sentir a beleza de cada nuance
de cor e de cada tom de som.
Viver ocasionalmente. Saber
que no frêmito de cada
estertor, respira uma nova
vida. Dançar a longa
música das espécies,
que se perde na noite dos
tempos e incendeia constelações.
Perder-se na correnteza das
gentes, que ora se avoluma,
ora se estreita, despenca
em abismos, muda de cores,
sucumbe, e renasce pequenina
e humilde, se agiganta com
a ajuda das nuvens.
Despedaçar-se de encontro
às rochas, qual Ícaro
que despenca das alturas,
e sentir-se em cada gota de
sangue, que pulsa viva para
sempre.
Ser o duende imerso no arbusto,
e o cavaleiro andante, que
ouve a sua consciência,
antes de tudo. Ser o fauno
que segue o seu instinto,
que o salva, e a sua intuição,
que o orienta. Aceitar a sombra,
que acompanha a luz que resplandece.
Sorrir, sabendo-se incerto,
e chorar, sabendo-se falho.
Mergulhar nas profundezas
da Terra, e saber que o perigo
acompanha a vastidão,
as trevas, e que, no entanto,
lá há a beleza
da vida, que sempre se renova.
Enfrentar as sombras invisíveis
que perambulam pela alma,
e perceber que os dragões
e as serpentes, muitas vezes,
surgem como os salvadores
incógnitos e desprezados.
Inscrever-se na vastidão
do ‘continuum’, participar
do seu multifacetado mundo
e contribuir como um dos seus
interpretes à mobilidade
criativa, que combate a moribunda
procura perpétua do
lucro pelos produtores, que
escarnecem do público,
sem que este o perceba, entorpecido.
Dar o melhor de si em cada
palavra, cada letra, cada
expressão, pois assim
é, e não há
como mudar, e por saber que
quem me lê merece respeito.
Abilio
Terra Junior
25/06/2009
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