Versos...
Não Vendo Não
- Flori Jane
Atentem
para o pregão
Vendo louças, prataria
Do começo ao fim do
dia
Vendo tudo à prestação
Tenho até tapeçaria
Vendo tudo em profusão
Mas, vejam...que ironia
Meus versos, não vendo
não!
Reler uma poesia
Preenche o meu coração
Por isso eu não poderia
Vender a minha emoção
Posso até mesmo emprestar
Se alguém fizer muita
questão
Mas aviso que vou cobrar
Um dia, a devolução
Cada verso meu é um
sonho
De ímpar inspiração
A cada verso me atenho
Com grande dedicação
Cada poema é certeza
É quase uma oração
E a cada um, com pureza
Entrego o meu coração
Quem quiser verso emprestado
Em qualquer situação
Leva um coração
empenhado
Sem nenhuma restrição
Só peço muito
cuidado
Ao fazer a transação
Devolva-o, adicionado
De sua própria emoção
Assim, ficarei acrescida
Com a eventual doação
E pra sempre agradecida
Pela consideração
Atentem para o pregão!
Vendo a prazo todo dia
Mas versos... prestem atenção:
Versos, não vendo não!
21/03/2005
São Paulo - Brasil
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Impossível
- Flori Jane
Será
possível esquecer-te?
Olhando daqui parece um feito
inatingível
Haverá ângulo
que me permita ver-te
Com um olhar, outro, incorruptível?
Será possível
esquecer teu nome?
Recobrir pelo esquecimento
Nossos encontros e o feliz
momento
Em que disseste, a suspirar,
te amo?
Anseio ouvir-te dizer que
me esqueceu
Quem sabe no frio da decepção
Eu alcance esquecer-te de
uma vez
Libertando, afinal, meu coração
Da visão que tenho
dos meus dias
Parece-me totalmente impossível
Abandonar os lampejos de alegria
Aos quais ainda me vejo suscetível
Apagar seus traços
enraizados na lembrança
Mais parece arrancar-me a
própria vida
É preferível
amar-te à distância
A criar em meu peito essa
ferida
22 de abril de 2005
São Paulo - Brasil
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Poesia
- Flori Jane
Um dia... comecei a ouvir
estrelas
Foi quando conheci a poesia
Da pena encantada de Bilac
Os versos que, primeiro, eu
decorei
E só depois deste velado
amor
Em que o senso, por certo,
eu não perdi
Meus sentidos todos se aguçaram
E a poesia alargou meus sentimentos
Hoje, a vejo em lugares variados
Incrustada como pedra preciosa
Revelando-se em termos inesperados
Na alma do poeta insinuada
Ah...soberba poesia que exala
Qual neblina que se desprende
do solo quente
Quando a chuva lhe rebate
caprichosa
Nas horas imprecisas do entardecer
Poesia que se recolhe às
dúzias
Dos passinhos delicados
Dos olhares angelicais e risos
sufocados
Das zombarias infantis
Poesia que vagueia no estalar
do vento arrependido
Que acaricia, entristecido,
os trigais
Embalando-os em canções
de ninar
Após açoitarem,
sem piedade, os cafezais
Poesia que desliza como a
dama inconseqüente
Que passeia inconsciente
Do encantamento criado ao
seu redor
Pelas luzes que tremulam em
seu caminhar
Ah... poesia que se disfarça
E se esconde nos cabelos ralos
Das avozinhas queridas
que contemplam seu passado
Com ares de esquecidas
E enfeitam nossos lares
Com suas colchas bem passadas
De cambraias perfumadas
Poesia que se adivinha entre
os casais
No toque de mãos, nos
olhares
Oblíquos e doces luzires
Nos salões e sob os
lençóis
Poesia que irrompe
Das raízes que o asfalto
rompem
Em busca da luz solar
Poesia dos pássaros
nos beirais
Poesia das borboletas destemidas
Que se lançam ao desabrigo
Arriscando-se à Vida
Ao vôo, à liberdade
Poesia que vara os tempos
Que se aninha nas ruínas
dos templos
Que desponta no dia-a-dia
Que resplandece no anoitecer
Ah...Poesia
"poiesis"
Do poeta loquaz
Companheira contumaz.
Março de 2005
São Paulo – Brasil