neste
meu coração expectante
flui a dor de um ser alheio
neste
meu coração flutuante
muda a cor conforme o meio
neste
meu coração murmurante
sinto a ânsia da estria
nele ambígua
mas presente com sua língua
neste
meu coração ambidestro
muitas línguas nele presentes
o confundem em sua mente
neste
meu coração seiscentista
há um odor de carniça
vindo das conquistas
das carnes estraçalhadas
à golpes de afiladas espadas
e de muitos tormentos
à sombra da grande cruz
rubra pelo sangue a ejacular
dos restos de febris membros
neste
meu coração pálido
pelos torpes golpes da vida
a morte com o seu hálito
nauseabundo e senil
o lembra sempre a rir
dos seus trôpegos passos
que a esfera impertinente
o levará reticente
em trambolhões ao partir
neste
meu coração juvenil
pulula a fresca esperança
no fundo dos seus porões
de uma redobrada quimera
que o alimenta e o lança
e o arrebata dos bordões
e o alça a cotas mil
em uma esplendorosa mudança
Abilio
Terra Junior
19/05/2006