Nada
disso ficou. Apenas as meras aparências, e o
desejo de se abrir o coração. O paraíso
imaginário circundava nossas orgânicas
presunções, a esperar que de nossas
frustrações resultasse algo, mas em
vão. E o machado, perfilado, pendia brilhante,
orgulhoso, ciente de si. Ora, nem todos percebiam
que da emulação enobrecida, os vermes,
paulatinamente, envolviam cada voz, cada gesto. Marchávamos
como gatos selvagens na neve, garbosos, perdidos.
Nossa humilhação ficara no passado,
enfurecida, vingativa, como se pudesse nos reconduzir
à uma nova freqüência, que nos sublimasse.
Nosso corpo serenara e, em parte, nossa alma, que
se elevava, algumas vezes, e, depois, pendia com alguns
ardores, negrumes, nervuras. Não obstante,
nos salváramos do pior destino, que serpenteia,
soturno, as intenções, os saltos no
vazio, que se omitem, nas piores circunstâncias.
Havia brilho, sim, nas vozes em uníssono, que
tantas vezes eram as primeiras a nos saudar, pernoitadas,
mas ainda firmes. Inspiravam-nos, destravavam-nos,
e percebíamos tênues imagens, perfumes
das mais fecundas mulheres, serenas após copularem.
Éramos destros na umidade que surgia, cúmplice,
quando nos detínhamos, sinceros, na nossa solidão
perfeita, a nos preparar para novas alternativas de
conquistas.
Quem de nós suspeitava que não havia
fim, mas grades espiraladas que se originaram no paraíso
e que poderiam se tornar caminhos sutis, severos,
complexos. Lançávamo-nos de cabeça
na plenitude das nossas perdas, julgando-nos salvos.
Perdíamo-nos ainda mais nos lúdicos
certames cotidianos, propiciados por seres superiores,
aqueles que, serenos, solitários, percorreram
todos os caminhos, com suas espadas fulgurantes, que
lutaram em profundidades além do nosso alcance.
Eis o grande dilema, que, do talhe da rocha, das esferas
infernais, da ilha dos gigantes, sempre a observar
o horizonte, pergunta-nos, a todo momento, se acompanhamos
a grande onda que cresce a todo instante, ou se perceberemos,
enfim, que nada mais resta, que, além da colossal
neblina, pintaremos a mais sublime paisagem, aquela
que nunca se perde e nunca se desfaz.
Das entranhas da terra surge uma luz que conduziu
alguns ao abismo que os salvou. Caminhos invisíveis
sob nossos pés, novas dimensões em trilhas
obscuras, chamas que se escondem no mais intenso negrume,
seres que nos observam, que nunca os vimos, que nuca
se perdem, que sabem do nosso perigo, e que, algumas
vezes, nos lançam em secretas armadilhas, a
nos impedir de ultrajar a magnitude, a nobreza, da
criação perpétua.
Abilio
Terra Junior
04/02/2009