o
anjo azul plaina soberano
observa restos de casas
a fumaça negra
que baila sobre detritos
o cheiro forte penetrante
da asa negra que carrega
almas amarfanhadas
em um redemoinho
que não para de crescer
a lua minguante a esclerosar
rugas vômitos
crianças que dormem
para sempre em um banquer
bocas que estrebucham
água no metrô
a fileira de soldados
em pé dentro do lago
o gelo que pariu o mundo
a vida no oco da terra
o trapézio que carrega a moça
para junto do anjo
a poltrona rota perdida
no emaranhado do mato da praça
que um dia esteve ali
o velho que sobe
os degraus da biblioteca
e não perde a esperança
de contar histórias
a lua que rejuvenesce
em seu banho matinal
o sol negro que fertiliza
a ilha dos mistérios
o
reino da cruz e da morte
que cedeu lugar
à avalanche das histórias
em quadrinhos
Abílio
Terra Junior
23/05/2006