Sangue.
Sangue obscuro que é
breve e se lança e
se esparrama e se ri pelo
seu poder, e muda de cores,
aglutina, desatina, desanda
por corrimões, espalha
seu cheiro e é mantido
em segredo. De tanta sorte
e tanto suor, que premia e
enche de glória e de
um calor invulgar a aparição,
que preenche todo o vazio
do cômodo, e o sela
no seio da floresta, só
e silencioso.
Novos capítulos surgem
bem de dentro da obscuridade,
infiltram-se na perene sensação
do vazio, avolumam-se demasiado,
correm pelos trilhos durante
a madrugada, lembram fogos-fátuos,
tal a sua rapidez. As moças
sentem prazer ao surpreende-los
e com longos assobios chamam
a atenção do
poeta e ele os persegue em
sua imaginação.
Mas elas não se contentam,
pois não se satisfazem
com esse exercício
dúbio. Exigem a concretude
de um poema. E o poeta se
exercita e carrega os tijolos,
um a um, e se torna verde
e assusta as beldades.
Em outra ocasião, ele
pratica o duro ofício
de amante empobrecido, e de
novo não é compreendido.
Elas caçoam dele, e
ele se perde, ainda que por
momentos, em sua própria
tensão. Finalmente,
se arremete contra todas as
peculiaridades de um ninho
de flores, de diversas procedências.
Sente-se demente entre tantos
odores. Crê que se salvou,
ou que, pelo menos, tornou-se
mais potente e selvagem. Puro
engano. Seus cabelos espalham-se
pela orgia daquele momento.
Consegue, assim, chamar a
atenção das
belas. Elas, as belas, tropeçam
entre si e o cercam. Salvam-no,
assim, de si mesmo.
Ele sai da sua introspecção
e se levanta; recebe abraços
e beijos. Percebe que das
belas difunde-se luz poética,
um fenômeno raro. Busca
seu lápis e seu papel.
Mas elas não o deixam
pensar, por serem belas. Improváveis
soluções passam
pela sua mente. É quando
a poesia surge da terra, envolve
o poeta, o sangue, as belas,
e recria labirintos de imagens,
que brotam, então,
do papel como de uma fonte.
Todos pulsam em uníssono,
possuídos pela poesia,
e o sangue de todos é
um só.
Abilio
Terra Junior
25/04/2009
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