Ainda
Bem.
Ainda
bem que há os minutos
em que minha alma descansa.
De fora das dúvidas,
culpas, dívidas. Das
incertezas que atormentam,
que pesam sobre os ombros.
De saber-se presente na ausência
que rola escada abaixo, no
redemoinho que toma corpo
e se revela uma tormenta,
nas correntezas invisíveis
no mais profundo oceano, berço
de trevas densas e gélidas,
e, no entanto, de calor e
vida estranha, deslumbrante,
fluorescente, das formas sinistras
e enormes, e de bizarras criações
que iludem e sobrevivem e
geram novas vidas.
A calma perene que permeia
tantas dúvidas espera
paciente, e então se
revela, brota do íntimo,
sussurro de um anjo, inspiração
que se insinua ao ritmo dos
verbos, da música que
se renova em todas as latitudes,
das vozes que se levantam
inspiradas, de belas cantoras,
de músicos exímios,
de grupos que se inventam
e aquecem o meu coração,
a minha alma, e sorriem e
se alegram e são fraternos
e amigos.
A salvação não
está tão longe,
e me inspiro e sinto nova
esperança. Afinal,
a música é vibrante,
eloqüente, serena, rítmica,
surpreendente, inesperada.
E me sinto novamente vivo,
e sorrio e sei que sempre
haverá uma nova luz,
um novo dia, uma nova visão,
uma nova perspectiva.
Novas cores me iluminam e
sinto-me presente, na voz
que se anuncia, no tom mais
alto e no mais baixo, na linha
melódica que atravessa
Oriente e Ocidente, nos volteios
dos quadris da bailarina,
no jazz que se mostra profundo
e intrincado, na complexa
resposta de que, enfim, não
me perdi. Escalo o abismo
e ouço os sons dos
sinos que voam e anunciam
os portais invisíveis
nos altos cumes, intransponíveis
mas abertos ao peregrino de
coração humilde.
Lá em baixo, a escuridão,
lá em cima, a luz.
E, assim, sucessivamente.
Pois não há
uma resposta, uma cura. Há
muitas respostas, muitas curas.
Portanto, porque se entregar?
No cotidiano, lutamos. Mesmo
que não o saibamos.
Pois se passa em segundos.
O tempo nos acompanha e nos
ilude. E também o espaço.
Não percebemos a intrincada
malha. O ‘véu de Maya’
que nos encobre. E lutamos,
pois este é o nosso
papel, no teatro mágico
que engloba o universo, ou
os universos. E nesse teatro
mágico, a música
e a poesia abrem o nosso coração
e a nossa alma para novas
luzes.
Abilio
Terra Junior
12/05/2009