Alice
nas Cidades
O
escritor alemão Philip
Winter percorre os EUA, escrevendo
um texto a esse respeito,
a ser publicado, e fotografando,
enquanto, ao mesmo tempo,
sente ‘a atmosfera americana’.
Procura o seu editor alemão
nos EUA, que demonstra insatisfação,
diz que ele fotografa muito,
não cumpriu o prazo
contratual, trouxe apenas
um bocado de notas esparsas
e fotografias. Diz que vai
se reportar ao seu editor-chefe
na Alemanha, que a partir
de agora está fora
do projeto, e que Philip leve
os seus ‘cartões-postais’
e as suas notas e desapareça.
É o que ele faz.
Vende o seu carro por 300
dólares e decide voltar
a Alemanha. No aeroporto,
é informado que há
uma greve dos transportadores
e que os vôos para a
Alemanha foram interrompidos.
Há a possibilidade
de que voe para Amsterdã.
Surge uma mulher com a sua
filha, Alice. Ela se mostra
acessível. Decidem
viajar todos para Amsterdã.
Philip procura a sua namorada,
que se mostra dura com ele.
Diz que ele não sabe
nem mesmo quem ele é,
que precisa fotografar para
encontrar pontos de referência,
provas de que esteve nesses
lugares, e, em suma, de que
ali esteve, e, portanto, está
vivo, existe. Ele lhe responde
que, de fato, sente uma grande
ansiedade de fotografar as
inúmeras imagens que
surgem ao longo da sua viagem,
mas que elas nunca conseguem
captar a realidade como ela,
de fato, é. Ele, que
já se despira, se veste
e sai do apartamento da sua,
agora, ex-namorada.
Como fora convidado pela mãe
de Alice, se dirige ao hotel
onde elas estão hospedadas.
Ela o convida a ficar, diz
que não terá
relações sexuais
com ele, mas que quer que
durmam juntos. Ela se separou
há pouco do seu marido
e conta que ele ainda pensa
que ela retornará para
ele. Pela manhã, Philip
acorda e vê a mulher
escrever um bilhete, já
pronta para sair. Ela sai,
ele se levanta e lê
o bilhete, em que ela lhe
diz que o seu ex-marido ainda
precisa dela, e que ela se
encontrará no aeroporto
com eles. Não é
o que acontece, e Philip e
Alice partem para Amsterdã.
Lá chegando, eles se
hospedam em um hotel próximo
do aeroporto.
Alice e sua mãe já
haviam morado em Amsterdã
e Alice fala holandês.
No restaurante, ela traduz
o cardápio para Philip
e lhe pergunta porque estão
em um restaurante barato.
Ele lhe responde que tem pouco
dinheiro. A mãe de
Alice não chega também
no dia seguinte. Diante disso,
Philip decide viajar para
a Alemanha. Alice lhe diz
que a sua avó mora
na Alemanha, mas ela não
sabe onde. Ela se refugia
em um banheiro público,
chorando, e Philip lê
para ela os nomes das cidades
alemãs, onde sua avó
poderia estar morando, até
que um nome parece familiar
a Alice. Philip aluga um pequeno
carro e percorrem as ruas
da tal cidade, na tentativa
de Alice descobrir a casa
da sua avó, mas ela
nada encontra.
No restaurante, Alice confessa
que a sua avó não
mora nessa cidade. Philip
lhe diz, então, que
a levará à Polícia,
e assim faz. Na Polícia,
Alice aguarda, enquanto Philip
conta ao policial os fatos
ocorridos e os dados que ele
conhece de Alice. Despede-se
de Alice e retorna ao apartamento.
É quando Alice aparece,
fugira da Polícia.
Diz a Philip que no depoimento
ao policial se lembrara do
sobrenome de solteira da sua
mãe e tem uma foto
da casa da sua avó.
Philip sorri e parte, de novo,
com ela. Perguntam a um taxista,
e, já em outra cidade,
encontram a tal casa. Alice
vai até lá e
conversa com uma mulher, mas
retorna, dizendo que a mulher
não conhece a sua avó,
e que mora ali há dois
anos.
Atravessando o rio em um barco,
Philip e Alice se encontram
com o policial, que está
a procura deles, que diz a
Philip, ambos sorrindo, que
conseguiram localizar a avó
de Alice e que a sua mãe
retornou a Alemanha. Em um
misto de alegria, por Alice
se reencontrar com a sua família,
e de tristeza, por terem de
se separar, Philip e Alice
viajam de trem ao encontro
dos familiares de Alice. Alice
abre a janela junto com Philip,
e, na última cena do
filme, ambos estão
na janela do trem, com os
cabelos agitados pelo vento,
enquanto a câmera se
distancia.
O filme é de 1974,
quando Wim Wenders fez as
suas primeiras viagens pelos
EUA. É um belo filme,
um ‘road-movie’ intimista,
emotivo, que aborda a marcante
questão da individualidade,
da beleza e da simplicidade
das relações
humanas, de como pessoas estranhas
se tornam íntimas e
vice-versa. O filme aborda
também o choque de
culturas, pois, em certo ponto,
Philip diz que não
consegue escrever, se sente
entorpecido, cansado das cenas
vulgares da televisão,
em que a publicidade não
está apenas nos intervalos
dos filmes e programas, mas
na própria intenção
de que estes, também,
se tornem peças de
publicidade. Em certo momento,
ele destrói um aparelho
de TV. Ele diz que, saindo
de Nova York, tudo é
igual, tudo se repete, as
avenidas, os motéis
para hospedagem, os anúncios,
as pessoas, as atitudes, os
hábitos, a cultura,
as cidades, as auto-estradas,
a comida, os refrigerantes
etc.
Filme: Alice nas Cidades (Alice
in den Städten, Alice
in the Cities)
Diretor: Wim Wenders
Atores: Rüdiger Vogler,
Yella Rottländer, Lisa
Kreuzer.
Ano de Produção:
1974
Abilio
Terra Junior
03/10/2009