LUZ
X TREVAS
Hoje, fala-se muito na luz
e muito pouco nas trevas.
Porque será? Os aconselhadores
(ou seriam conselheiros?)
de plantão têm
medo das trevas? Porque? Se
as trevas existem em consonância
com a luz?! Não há
luz sem trevas, nem trevas
sem luz! Há alguém
que não tenha sombra
(seja a sombra visível,
que acompanha o nosso corpo
em posição oposta
à luz que nos alcança,
seja a sombra invisível
ou psicológica, que
é parte atuante dos
nossos processos psicológicos,
em nosso inconsciente)? Todos
nós possuímos
sombras. Todos nós
possuímos trevas em
nosso ser.
A alguns, essas afirmativas
podem parecer chocantes ou
fortes demais. É duro
admitir a verdade, aceitar
a nossa verdade, a verdade
da nossa própria natureza.
É bem mais fácil
se enganar, se iludir, e enganar
a outros, se afirmando que
só existe a luz em
nossas naturezas, que somos
seres puros, perfeitos, impolutos
e magnânimos, e que
as trevas só existem
naqueles seres perdidos, infelizes,
maldosos, vencidos e impuros,
que sobrevivem nas sarjetas
da sociedade, e que só
merecem o nosso desprezo e
desdém. E que a vida
continua, como sempre, maravilhosa,
cor-de-rosa e azul para os
vencedores e perfeitos, aqueles
que só enxergam e aceitam
a luz.
Mas será assim mesmo?
Assim pensavam seres que alcançaram
elevados índices de
consciência, grandes
pensadores que deixaram a
sua inestimável contribuição
para a cultura humana? Não
parece ser o caso.
Pelo contrário, todos
eles só alcançaram
abrangente compreensão
ao mergulharem, corajosamente,
em suas naturezas constitutivas,
com tudo o que havia de luz
e de trevas, de ganhos e de
perdas, de alegrias e de tristezas,
de angústia e de euforia,
de doença e de cura,
de dor e de prazer, de vida
e de morte, dentro de si mesmos.
Só assim, nessa luta
constante, nesse combate que
é o maior de todos
os combates, que é
o que se trava dentro de si
mesmo, conseguiram alcançar
algum grau de maior integração
entre os múltiplos
aspectos das suas personalidades,
em um primeiro nível,
e das suas individualidades,
em um nível mais profundo
ou completo.
E, por falar no "maior
de todos os combates",
não poderia passar
ao largo do "Mahabharata",
o "grande poema do mundo",
que conta a longa batalha
entre os Pândavas e
os Káuravas, que põe
em jogo a sorte de todo o
universo, e do qual, uma das
inúmeras leituras é
a de que se trata de um longo
tratado de iniciação
real. Do "Mahabharata"
faz parte o precioso "Bhagavad
- Gita", que aborda também
os diversos aspectos internos
de nossos seres em seu conflito
constante.
Entretanto, hoje, está
em moda permanecer na superfície,
onde tudo parece tranqüilo
e leve, naquele nível
dos relacionamentos sociais,
que tanto satisfazem à
"persona", mas que
nunca passará próximo
sequer do estrato profundo
que os grandes pensadores
atingiram em suas meditações
solitárias e reservadas.
Lembro-me de que quando a
atriz Christiane Torloni perdeu
o seu filho em um trágico
acidente, e queria, a todo
custo, permanecer sozinha,
deixando-se atravessar até
o mais fundo do seu ser por
aquela dor pungente e lancinante
que a esmagava, pois aquele
era o momento de se sentir
aquela dor, e quando percebeu
que não lhe permitiam
passar por essa experiência,
crucial para ela, através
de telefonemas constantes
que lhe repetiam sempre convites
fúteis para que "saísse
do seu lar, fechado, escuro,"
e que viesse para "a
praia, o sol, a luz, o passeio,"
que lhe fariam "esquecer
aquela dor," viu-se obrigada
a viajar para Portugal, onde
sabia que encontraria um ambiente
mais propício a aquilo
que a sua alma tanto pedia
naquele momento: a solidão,
a dor.
Sim, pois ao contrário
do que a mídia, os
pregadores, os aconselhadores
e os conselheiros de plantão
pregam aos quatro ventos,
através da TV, revistas,
jornais, vídeos, filmes,
sites, livros de auto - ajuda,
não é pecado,
e tampouco, ninguém
deve se sentir inferiorizado
ou desqualificado sob qualquer
aspecto, pelo fato de sentir
angústia, dor, melancolia
ou conflito íntimo,
em qualquer momento da sua
vida. Todas essas emoções
são tão reais,
vitais e essenciais neles
quanto as da alegria, contentamento
e prazer. Não há
nada de errado quanto a elas.
E nem em se apreciar momentos
de solidão, em que
poderão expressar aspectos
íntimos do seu próprio
ser e, dessa forma, se conhecerem
melhor, em maior profundidade,
de como é constituída
a sua verdadeira natureza,
com tudo o que ela apresenta
em si, de luz e de trevas.
Muito pelo contrário,
serão cada vez mais
seres dignos desse nome, SER.
Pois serão, cada vez
mais, eles mesmos, até
que possam, gradualmente,
se aproximar daquilo que constitui
a sua totalidade. Sim, pois
é muito difícil
SER, bem mais difícil
do que TER. Apesar de que,
hoje, geralmente, se caminha
no sentido exatamente oposto.
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