O
Grande Lago
Parou
em frente ao grande lago negro,
opaco, escondido em uma densa
neblina. Sentia-se cansado
e se indagava sobre o que
viria a seguir. Vislumbrou
um vulto que passava, a alguns
metros, se parecia com sua
inspiração,
que desaparecia aos poucos.
Sentou-se em uma rocha e tentou
imaginar o que haveria além
do grande lago. Uma incógnita.
Partira da província
há tanto tempo, que
pouco se lembrava de lá.
Lembrava-se das montanhas,
que se transformavam ao correr
do tempo. Muitas nem existiam
mais.
No trajeto, topara com o mar
e seus perigos, as morenas
sensuais em suas praias.
Passara pela planura das terras
vermelhas, em que muitos se
perdiam tentando alcançar
os seus desejos e os seus
anseios. Nestas lutas, as
almas se agrupavam, e costumavam
se esquecer de quem eram.
Ele buscara, algumas vezes,
metas intransponíveis,
imagens de ouro em templos
magníficos. Talvez,
tentativas de transpor barreiras
que, desde cedo, se interpunham
em sua caminhada, obstruindo
os seus passos. Mas, aos poucos,
se aproximara de si mesmo,
talvez um pouco tarde. Talvez
não. Pois às
vezes pensava que o tempo
não progredia linearmente.
Ele dava voltas, se escondia
e aparecia, numa espiral ininterrupta.
E, agora, deparava-se com
o maior dos mistérios,
escondido na neblina. Continuava
vagando em seus próprios
pensamentos. Ouvia vozes que
cantavam, ou lamentos, vindas
das profundezas do lago. Seriam
vozes de sereias, iaras, tentando
seduzi-lo?
Pouco a pouco, divisou vultos
que tomavam forma, que, do
lago, se aproximavam das suas
margens. Um barco se aproximava,
conduzido pelos remos de uma
mulher, outras duas estavam
sentadas em seus bancos. Duas
eram morenas e uma loura,
com tipos diferentes de beleza.
Elas olhavam para ele e sorriam.
O barco atracou. Elas desceram
e se dirigiram para ele. Vestiam
trajes antigos, que desciam
pelos seus corpos, de diferentes
cores, como se fossem gregas.
Estenderam os seus braços
e o ajudaram a se levantar
da rocha. Sem dizer uma palavra,
o conduziram ao barco. Ele
se sentou em um dos bancos,
ao lado de uma delas. Sentiu
uma profunda sensação
de paz, como, se, finalmente,
partisse ao verdadeiro encontro
de si mesmo. Fechou os olhos
e deixou-se conduzir, dentro
da espessa neblina.
Abilio
Terra Junior
20/07/2008