UM
ENTRE TANTA GENTE
No trânsito confuso
do centro, andava, um entre
tanta gente, e passava ao
lado do obelisco que já
mudara de lugar tantas vezes.
Circulara a praça e
já tomara um cafezinho.
Alguns manifestantes distribuíam
cartazes denunciando a montadora
de automóveis pelas
agressões contra manifestantes.
Pegou um folheto da mão
de um deles e viu a foto do
rosto de um homem marcado
por um golpe de cassetete.
Deu uma olhada na banca de
revistas e viu as fotos dos
soldados israelenses e dos
militantes palestinos trocando
tiros, enquanto a distante
paz esperava a sua vez. Também
se destacavam as últimas
novidades dos famosos participantes
dos agora tão em moda
"reality shows".
Não via muito sentido
naquilo, mas os seus filhos
não desgrudavam os
olhos da TV, acompanhando
todas as instáveis
mudanças de humor dos
participantes, a maioria com
seus físicos privilegiados,
cultivados em intermináveis
horas de malhação.
O mesmo não se podia
dizer dos seus conhecimentos,
mas, como o próprio
nome dizia, era mesmo um "show",
fabricado pela mídia
com o fim de distrair o público
de problemas maiores que tanto
o assolava, nesses tempos
dramáticos.
Passou ao largo de um bocado
de jogadores de dama e de
xadrez, sentados frente a
frente, próximos a
um edifício, na rua
fechada, utilizada apenas
pelos pedestres.
Havia um pequeno grupo circundando
um carro de uma emissora de
TV, a jornalista com o microfone
na mão, o câmera-man
ao seu lado, e um aparelho
de TV em que todos se observavam
enquanto aguardavam o momento
do início das entrevistas
do dia, sobre algum assunto
bem atual. Possivelmente,
as opiniões dos torcedores
dos dois times de futebol
que possuíam as maiores
torcidas. Era um assunto que
provocaria muito entusiasmo
de todos, sem a menor dúvida,
com aquelas provocações
de sempre, cada um apontando
a sua camisa (do seu time),
com os olhos já inflados,
o rosto vermelho e suado,
e os perdigotos se espalhando
pelo ar, com a voz se elevando
e tremendo, levada pela emoção!
Às vezes, no estúdio,
um médico era entrevistado
pelo casal de repórteres
sobre assuntos bem íntimos,
e de lá da praça,
aquela gente simples soltava
as suas perguntas com a maior
desenvoltura, sem se constranger.
Talvez porque só teriam
ali, naquele momento, essa
rara oportunidade...
Ele gostava de ouvir e ver
essa espontaneidade generosa,
que brotava do coração,
e que, no mesmo instante,
irmanava a toda aquela boa
gente sofrida e calejada,
nos mesmos anseios, emoções
e surpresas.
E todos sentiam, que a despeito
de tanta violência,
incompreensão e ganância,
eles, juntos, naquele grupo,
naquele momento, sentiam-se
solidários e sorriam
alegremente, com as fraquezas
e temores da gente comum,
como milhares que cruzavam
aquela avenida.
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