Um
Reino Misterioso
Petit Peter ou PP vivia em
um reino em que nada dava
certo. Isto se devia a que
seu rei tinha um lóbulo
a mais no seu cérebro.
Como do rei emanavam todas
as vibrações,
em diversas dimensões,
além das três
conhecidas, que repercutiam
nos seus súditos, esta
sua excrescência cerebral
dificultava o entendimento
e as conseqüentes ações
destes últimos.
Assim, se um cidadão
montava o seu cavalo, ele
se sentava na direção
oposta, ou seja, voltado para
a traseira do animal, o que
atrapalhava bastante o direcionamento
do seu caminhar. Se uma moça
pretendia se casar, nos últimos
dias que antecediam a cerimônia,
o noivo descobria algo que
o decepcionava, como o fato
dela lhe ter sido infiel alguns
dias antes, ou amar a sua
melhor amiga, em vez dele
mesmo.
Os meninos, ao jogarem as
suas ‘peladas’, marcavam sempre
gol contra, ainda que tentassem,
de todas as formas, marcar
gol contra o time adversário.
As jovens subiam nas árvores
e lá de cima, mostravam
as suas partes íntimas
aos rapazes, que, por sua
vez, desviavam o olhar, e
saiam correndo para contar
ao padre o que lhes sucedera.
As pessoas caminhavam pelas
ruas sem conseguirem desviar
dos que vinham nas direções
opostas e se chocavam umas
com as outras, o que provocava
ferimentos de maior ou menor
gravidade, conforme o caso.
Os galos não conseguiam
dirigir os galinheiros; bem
que tentavam, mas as galinhas
se rebelavam e os atacavam,
e os pobres coitados fugiam,
pedindo socorro.
O reino costumava ser atacado
pelos reinos vizinhos, pois
os seus embaixadores, enviados
pelo rei em missões
de paz, transmitiam mensagens
provocativas ou tentavam seduzir
as rainhas, provocando a ira
dos reis vizinhos. Os agricultores
trocavam as datas das ocasiões
de plantio das frutas, legumes,
verduras, e, como resultado,
as colheitas eram escassas,
provocando a fome de muitos
cidadãos, que pensavam
em se mudar para os reinos
vizinhos, mas não eram
aceitos, pois a má
fama do reino se alastrara
em todas as direções,
alcançando os mais
distantes povoados.
Esta situação
incômoda e invulgar
teria provocado o desespero
e até uma rebelião
dos cidadãos do reino,
mas eles não tinham
consciência daquela
situação caótica,
dominados que estavam pelas
emanações do
portentoso e vibrante cérebro
real.
Apenas PP, que passava os
seus dias estudando os mais
diversos compêndios,
percebia, gradualmente, a
gravidade da situação
do reino, embora ele também
estivesse sob o domínio
das régias vibrações.
Ele tinha uma namorada, já
cansada de subir nas árvores
para provocar PP, enquanto,
em troca, recebia severas
advertências do padre.
Mas, ainda assim, eles se
amavam.
Em
conseqüência, o
número de nascimentos
diminuía, pois muitas
poucas jovens conseguiam se
casar, pelos motivos já
expostos, e as que conseguiam,
geravam poucos bebês,
pois, durante as relações
sexuais, na hora H, ou as
mulheres, distraídas,
se movimentavam, ou os homens
se desconcentravam, lembrando-se
de compromissos, nem sempre
tão importantes.
PP, certa ocasião,
teve um momentâneo vislumbre
da causa ‘real’ deste caos,
mas, ao se dirigir ao castelo
onde residia o rei, montado
no seu cavalo na posição
já mencionada, foi
atingido por um galho de uma
árvore na cabeça,
desmaiando, e quando se reanimou,
se esquecera completamente
da razão da sua animada
cavalgada.
Portanto, não havia
uma possibilidade, a mais
remota possível, de
salvar este reino de uma bem
provável e inevitável
destruição.
Até que um dia, o rei
e todos os seus súditos
desapareceram misteriosamente.
Contam os registros históricos
que tudo foi deixado para
trás, casas, pertences
etc., como se todos tivessem
ido passear, apenas com a
própria roupa do corpo.
Na época, não
se encontrou uma causa provável
para este súbito desaparecimento.
Hoje, diante do nível
atual de conhecimentos que
alcançamos, cogita-se
que todos foram abduzidos
por alienígenas, sendo
conduzidos, nobres e plebeus,
em um imenso disco voador,
a um planeta distante, possivelmente
em outra galáxia. Dizem
até que o rei, na verdade,
era um alienígena,
dadas as suas excepcionais
condições fisiológicas,
orgânicas, psíquicas,
o que nos leva a deduzir que
ele, possivelmente, estivesse
em contato com outras dimensões,
além das nossas três
conhecidas, o que casa, perfeitamente,
com este final aparentemente
paradoxal. O que nos leva
a uma outra dedução:
as aparências enganam.
Abilio
Terra Junior
25/06/2010