Sou
Eu
Tere Penhabe
Uma mulher
às vezes anjo
às vezes fera
que às vezes tudo consegue
outras vezes nada espera.
Uma mulher
que às vezes luta
às vezes se entrega
embrenha-se em íngreme
busca
e abandona o que consegue.
Uma mulher
que sobretudo ama
às vezes pouco
às vezes muito
e que jamais engana.
Uma mulher
que uma montanha busca
onde estão seus sonhos
encostados numa nuvem
e que não gosta de
espelhos.
Uma mulher
que a vida desafia
que respeita a morte
e às vezes reclama
da sorte.
Uma mulher
pura e simplesmente
sem nada de mais
nem de menos
mas irreverente.
Essa mulher sou eu
despida agora num poema
que eu fiz prá mim
pensando em você
que eu tanto amei!
Itanhaém, 14.04.2004
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Carta a Ninguém
Tere Penhabe
Escrevi uma carta a ninguém
Falei da vida que eu não
vivi
de pensamentos que embalavam
a mente
da vontade de sobrevoar o
mundo
presa a um sonho bonito
por um fio de esperança.
Falei de amor!
Do grande amor que eu sentia
por ninguém.
Coloquei minha alma carente
em verdadeiras palavras
num papel verdadeiro
e envelopei a verdade com
carinho.
Enviei a ninguém...
Por longo tempo esperei a
resposta
disparei o coração
muitas vezes
indaguei ao mundo
o paradeiro de ninguém.
Amei cada palavra que não
recebi
fantasiei o amor com bela
fantasia
e fantasiada vi passar meus
dias.
Alguns ensolarados e quentes
outros frios e úmidos
mas todos vivendo da mesma
ilusão
de encontrar de repente na
porta
a minha resposta.
Hoje, ninguém me respondeu.
Por isso estou feliz!...
SCRPardo,
1993
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Como
é ter 50 anos? - Tere
Penhabe
O que pensam as pessoas, sobre
chegar-se aos cinquenta anos?
Depende muito da idade de
quem está pensando.
Para uma criança de
10 anos de idade, chegar aos
50 anos, é ser, incontestavelmente,
avô ou avó de
muitos netinhos.
Dar bons presentes no Natal,
ser deixado de lado nas festas
de aniversário porque
são lugares onde geralmente
tem muito barulho e os avós
nunca gostam do barulho que
as crianças fazem,
mas mesmo assim, são
eles que compram os melhores
presentes, ou pelo menos,
os que o neto mais gosta,
ainda mais se as roupas puderem
ser compradas pelos pais.
Enfim, para os miúdos
de 10 anos, ter cinquenta
anos equivale a ser um cofrinho,
só que bem mais poderoso
que o deles, e onde as moedas
não fazem barulho.
Mas e quando chega os 20 anos?
Para os jovens de 20 anos,
ter cinquenta anos é
ser antiquado, ter dores embaixo,
em cima, do lado, enfim, a
decrepitude em pessoa.
Estorvo: é como eles
vêem as pessoas de 50
anos. As músicas e
filmes que povoam as lembranças
dos cinquentões não
provocam aplausos nem vaias
nos jovens de 20 anos, provocam
algo que eles expressam com
"UahUahUah", que
infelizmente eu não
consegui definir o que seja.
Eles tem absoluta convicção
de que não chegarão
lá, ou melhor, pensam
que chegarão aos 50,
com o vigor dos 25, é
mais ou menos isso.
A grande maioria acha também,
que as mulheres de 50 anos
são muito mais velhas
que os homens da mesma idade,
principalmente se os homens
tiverem cabelos grisalhos
e se parecerem com o Antonio
Fagundes ou Richard Gere.
Mas tem a turma dos trinta.
A avaliação
dos cinquentões melhora
consideravelmente aos olhos
dos que têm 30.
Não são mais
tão velhos, passam
a ser "maduros".
Afinal, começa-se a
aceitar a idéia de
que todos, crianças
ou não, vão
ter que encarar o "maledeto"
50, mais cedo ou mais tarde,
dependendo de como for a vida.
Se ela estiver boa, passa
como um raio. Se as coisas
se complicarem, arrasta-se
sonolenta e desesperadoramente.
Mas, lentamente ou não,
chegamos à turma dos
quarenta.
Para esses, ter cinquenta
é ser menino ainda,
principalmente depois que
o rei Pelé lembrou
a todos que a vida começa
aos 40. É mais ou menos
nessa época, nos 40,
que descobrimos o espírito.
Sim, porque a partir daí,
precisamos dele para dizer
que ele não envelhece,
que tudo depende de como você
encara a vida, que ser jovem
é um estado de espírito,
e blá blá blá.
Só blá blá
blá mesmo, porque as
rugas estão lá,
traiçoeiras e atrevidas.
Você pode esticar feito
a Glória Menezes e
parecer que está rindo
quando está chorando,
mas eu ainda sou de opinião
que é melhor não
bolinar nas danadas das rugas,
porque quanto mais estica,
mais o caldo entorna, essa
que é a verdade.
Mas o designativo "menino(a)"
é a marca registrada
dessa idade, porque eu garanto
a vocês, que nunca fui
chamada de menina tantas vezes,
como na última década.
E agora vou chegar aos 50...
já estou na contagem
regressiva, se é que
se pode chamar assim. Então,
eu mesma vou dizer como é
ter 50 anos, para quem está
quase lá...
Você acorda de manhã,
cara amarrotada e feia, porque
todo mundo é feio com
50 anos de manhã, olha
para o espelho, com cara de
poucos amigos, pensa um pouco,
só um pouco e diz lá
com seus botões:
- "putz, você já
viveu um bocado hem cara?!"
E sai pra vida, como se tivesse
20 anos...
Santos_21.11.2004