Estranha
Loucura - Zena Maciel
Rasguei o véu da mordaça
Pisei nas chagas da dor
Abortei sobras de amor
Plantei uma flor!
Extirpei velhas feridas
Renasci no feto da vida
Sou luz!
O hoje me seduz
O futuro reluz
Escarro na maldita tristeza
Dane-se a realeza do dia!
Quero mais é gargalhar
O mundo ironizar
Antigas primaveras exilar
!
Sou
uma insana criatura
Visto-me com os trapos da
loucura
Uso palavras impuras
Despidas de ternuras
Sem as hipocrisias da candura
Com
os versos vou amargar
O fel do ódio destilar
A alma poder lavar
e o coração
perfumar
O mundo que fique a se questionar
O que leva um poeta a vida
inventar?
Quer com os sonhos brincar?
Ou a dor ocultar?
17/11/2004
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Tua
Rosa - Zena Maciel
Ah! quem dera ser tua rosa
Tão bonita e formosa
No teu colo toda airosa
com o coração
em verso e prosa
os teus sonhos desfolhar
Ah!
quem dera o amor germinar
Os dias perfumar
A vida conjugar ao som
do intransitivo verbo amar
Ah!
quem dera ser tua primavera
Para cobrir as mazelas
com o sudário do céu
No éden da tua alma
me lambuzar de mel
Ah!
quem dera pelo menos ser
um pequenino vulcão
no jardim da tua ilusão
para acender o fogo da paixão
Ah!
quem dera
a felicidade na tua boca beber
No teu corpo adormecer
e no abraço dos teus
braços
de prazer enfim morrer!!!!!
20/09/2004
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Sacrilégio!
- Zena Maciel
Sacrilégio !
é a solidão
do meu corpo
com o peso do desejo morto
na fria cama da dor
Sacrilégio !
é minha boca seca e
vazia
sedenta de euforia
dos doces lábios do
amor
Sacrilégio!
é o coração
em lampejo
caído e jogado ao chão
pisado e machucado
sem direito a extrema-unção
Sacrilégio
!
é a noite nua e fria
com a alma no colo da letargia
queimando na escuridão
a amarga desilusão!
Sacrilégio!
é a vida hibernado
os dias se esvaziando
o tempo lágrimas chorando
no altar da solidão
Sacrilégio!
é o apelo do adeus
buscando seu Prometheu!
Que no céu se escondeu
em outros braços se
aqueceu
e o meu amor esqueceu!
Sacrilégio
!
é o maldito verbo imoral
que para o mundo é
bendito e banal
mais que causa tanto mal
ao etéreo desejo carnal
Sacrilégio
!
é um sonho quebrado
e desfeito
como um punhal que sangra
e
rasga o peito
Quando vê que alma não
tem jeito
De ilusão semprre viveu
e na taça da loucura
não bebeu!
01/09/2004
23:40
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Nas
Dobras do Tempo - Zena Maciel
O olho procura a vista
A vista busca o olhar
O olhar perdeu-se no tempo
O tempo perdeu a cor
A
cor perdeu o brilho
O brilho ofuscou a luz
A luz furou o túnel
O túnel não
tinha saída
A saída buscou a volta
A volta já não
existia mais
Perdeu-se
nas dobras
invisíveis do tempo
Voou nas asas do esquecimento
Morreu nos braços do
triste lamento
Sem direito ao beijo da extrema-unção!
13/06/2003